Diversidade é hoje um dos grandes temas discutidos nas organizações.
Porém, muitas vezes o foco ainda é restrito ao conceito de etnia ou gênero.
Diversidade é uma plataforma muito mais ampla do que isso. Diversidade, inclusão e inovação atualmente andam de mãos dadas e estão mais relacionadas do que pensamos. Porém, muitas vezes as organizações não conectam essas tendências. Construir e promover uma estratégia de diversidade e inclusão que realmente seja vivida em uma organização é um catalisador para o sucesso e uma base para a inovação. De acordo com a 18ª Pesquisa Anual Global de CEOs da PwC, 85% dos CEOs cujas organizações possuem uma estratégia de diversidade e inclusão dizem que ela melhorou o desempenho. Organizações altamente inclusivas se classificam 170% melhor em inovação, de acordo com uma pesquisa da Deloitte. A pesquisa constata ainda que as organizações com culturas inclusivas tem seis vezes mais probabilidade de serem inovadoras e ágeis; oito vezes mais chances de obter melhores resultados comerciais e o dobro da probabilidade de atingir ou exceder as metas financeiras.
Falar de diversidade dentro do mundo organizacional, é falar de cultura organizacional. Para se manter competitivo, é imperativo que as organizações construam uma cultura de inovação vinculada à diversidade e inclusão. E isso não é construído de um dia para o outro. É um processo, que passa por todas as áreas da companhia e como toda boa transformação, precisa de tempo para crescer e ser internalizada. Considerando o impacto potencial dessa estratégia no desempenho dos negócios e no potencial de inovação, os esforços de diversidade e inclusão devem ser alinhados por toda a organização.
Diversidade é algo com o qual todos temos contato em nossas vidas diárias. Nós como indivíduos temos gostos, preferências, ideias, desejos e sonhos diferentes. É a partir dessa diversidade que nosso mundo é formado e criado. Há uma infinidade de restaurantes, estilistas, opções de entretenimento, livros, marcas, etc.. para pessoas e gostos diferentes. Essa diversidade é o que faz do nosso mundo um lugar bonito. A diversidade, essencialmente, é a antítese do tédio. Ela também serve para determinadas funções na natureza. Por exemplo, a biodiversidade é uma chave importante para o funcionamento do nosso planeta. Cada espécie desempenha uma regra importante na sobrevivência do nosso planeta e do ecossistema. Da mesma forma, na matemática aplicada, quando os pesquisadores constroem modelos, eles procuram amostrar diversas regiões do espaço para obter o resultado mais preciso. Esse princípio também é aplicado e estendido aos investimentos. As pessoas gostam de espalhar seus investimentos em um portfólio diversificado, para proteger-se no caso de um deles falhar.
Foi na década de 1990, que chegou no Brasil o conceito de diversidade junto com a globalização e os avanços econômicos. Com a diminuição das barreiras no mundo, as grandes empresas começaram a necessitar profissionais com conhecimentos cada vez mais distintos. Uma verdadeira mudança de paradigma já que durante muito tempo, o que se requisitava nas organizações eram profissionais quase “robôs”, que executassem as tarefas da mesma forma para ter um desempenho igual. Essa noção de pasteurização dos resultados foi substituída por uma necessidade de reconhecer que é na diferença que os potenciais de resultados aumentam. Alguns fatores impulsionaram a discussão do tema dentro das empresas, segundo a pesquisa “A Diversidade e Inclusão nas Organizações no Brasil”, realizada pela Associação Brasileira de Comunicação Empresarial (Aberje): o fato de que há 30 anos o racismo se tornou crime no Brasil e a criminalização da homofobia em junho deste ano.
Mas então, porque a diversidade é vista, muitas vezes como problema e não oportunidade?
Uma das possíveis respostas é que para criar e manter a diversidade, é preciso criar uma cultura diversa. E isso exige esforços individuais e coletivos.
Ao buscar no dicionário a definição de diversidade me deparo com: “Diversidade significa variedade, pluralidade, diferença. É um substantivo feminino que caracteriza tudo que é diverso, que tem multiplicidade. Diversidade é a reunião de tudo aquilo que apresenta múltiplos aspectos e que se diferenciam entre si, ex.: diversidade cultural, diversidade biológica, diversidade étnica, linguística, religiosa etc.”
Ora, se diversidade é deparar-se com a pluralidade e a diferença, é também deparar-se com nossos próprios julgamentos internos preconceitos e pré concepções sobre a realidade. Criar uma cultura diversa tem a ver com desafiar-se nas nossas verdades. No caso das organizações, é a mesma coisa. Se uma empresa é feita de pessoas, mexer em diversidade é lidar com pessoas. Segundo Claudia Politanski, vice-presidente e membro do comitê executivo do Itaú Unibanco, “uma prática que se torna comum no mundo corporativo é falar abertamente sobre discriminação. “As pessoas precisam se reconhecer preconceituosas para que elas próprias possam neutralizar seu preconceito”, diz ela.
Para construir e manter uma cultura de inovação é importante olhar para a diversidade e inclusão além do gênero e considerar áreas mais abstratas (e difíceis de avaliar), como a diversidade de pensamento. Embora seja fácil medir a diversidade de gênero contando por exemplo a proporção de mulheres na força de trabalho, não se pode medir a diversidade de pensamento com números e estatísticas. Isso torna ainda mais difícil gerar e manter a diversidade de pensamentos.Investir em habilidades é uma opção para estabelecer e promover a diversidade de pensamento. Daqui a cinco anos, 35% das habilidades consideradas importantes na força de trabalho de hoje terão mudado, de acordo com o Relatório do Futuro dos Empregos do Fórum Econômico Mundial. As habilidades sob demanda do futuro, como colaboração e solução de problemas complexos, permitem que os funcionários pensem de maneira diferente e permitem que a inovação prospere.
A diversidade também tem a ver com o processo de recrutamento e contratação. Por exemplo, os entrevistadores do Airbnb foram treinados anteriormente para encontrar pontos em comum com os candidatos (por exemplo, hobbies, formação educacional, experiências) para ajudar a criar conexões. Embora pareça uma boa ideia, esse tipo de comportamento leva a um viés de semelhança: gostar de pessoas que são parecidas conosco ao invés de se concentrar no conjunto de habilidades relacionadas ao trabalho. Recentemente, o Airbnb mudou seu processo de recrutamento para evitar explicitamente de procurar pontos em comum e usar pontuações objetivas para garantir que todos os candidatos sejam avaliados de maneira justa. Uma vez que a organização tenha feito a lição de casa para a contratação de candidatos sem nenhum viés, outra questão é prestar atenção se ao longo do tempo a cultura organizacional permanece homogênea devido a uma taxa de rotatividade maior para alguns grupos.
Ainda que a maioria das empresas tenham programas de diversidade, segundo pesquisa realizada com 16.500 pessoas em 14 países como Reino Unido, Estados Unidos, Finlândia, China e Brasil, apenas um quarto dos funcionários, que fazem parte de grupos que são público alvo das ações, dizem se beneficiar dos projetos. A pesquisa destacou que existem “pontos cegos” da liderança em relação à diversidade. Prova disso, foram as recentes críticas e acusações de racismo que a marca italiana Gucci recebeu, ao lançar um suéter preto com balaclava da mesma cor emoldurada por um recorte na boca com grossos lábios vermelhos que lembrava os blackfaces do século 19. No mesmo mês, a marca com sede em Milão anunciou que contrataria diretores globais e regionais para diversidade e inclusão, além de lançar um programa de bolsas de design multicultural, um programa de conscientização sobre diversidade e inclusão e um programa de intercâmbio global. A grife alemã Adidas também teve problemas quando em fevereiro, mês da consciência negra nos EUA, lançou uma peça comemorativa para a ocasião. A questão? Era um modelo ultraboost todo branco, parte de uma linha “uncaged”, traduzindo “solto da jaula”; um jargão usado pela marca para definir um tipo de tênis que não leva forro de plástico na parte externa. Os internautas criticaram: “Adidas, você estão realmente celebrando a cultura negra com um Ultraboost solto da jaula todo branco?”.
Sinal dos tempos. A sociedade cobra por um posicionamento mais justo e diverso dentro e fora das empresas. Seja porque os preconceitos não são bem vistos, seja porque sem diversidade não existe inovação e sem inovação as empresas não sobrevivem. Fato é que a diversidade cria um ambiente de trabalho mais harmônico e aumenta a criatividade. O resultado financeiro? Sim. Ele acontece. Mas ele é fruto de uma transformação interna. Transformação que permite com que os funcionários tenham a liberdade de serem quem são, transformação que cria políticas para a contratação de pessoas diversas em estilos de pensamento, raça, opção sexual, idade, gênero, habilidades …. Transformação que permite com que a diversidade se perpetue dentro das organizações.
Diversidade é sobre formar equipes mais criativas, criar valor para a marca e oportunidades equivalentes no ambiente de trabalho. Mas sobretudo é sobre Ser Humano. É sobre pessoas serem acolhidas e respeitadas!!
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